"Diante da fragilidade da própria Vida, somos nós quem nos dissolvemos. Apesar das ignorâncias e dos medos que nos desviamos, além das tristezas e das mesquinharias de que nos protegemos, o homem coleciona suas inevitáveis tragédias. Há misérias ilusoriamente particulares nossas que cedo ou tarde tomam forma, peso, densidade, ganham eco, força, intensidade e contaminam o ar, envenenam o tempo, arruínam os outros. Na soma dos nossos dias, inevitavelmente perdemos. Afinal, qual o alcance das nossas ganâncias? Qual a culpa dos nossos descasos e a extensão dos nossos erros? Jardim crescido que abandona semente também não floresce. Fruto maduro que não se dedica à boca alheia inteiro apodrece. E não há nesta terra poesia que nos salve dos nossos silêncios, filhos da omissão, nem das profundas dores, irmãs da perda, do desespero e do desamparo. Assim, hoje me cabe pedir licença aos meus habituais egoísmos para condoer e exercitar adormecida compaixão. Se não há dor maior do que aquela que a gente sente, despertenço-me para doer no outro a Alma que se apagou com forte vento. Que Deus tenha piedade de nós."
Guilherme Antunes
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