quinta-feira, 14 de novembro de 2013

No País das Maravilhas


"Para Maria das Graças 

Agora, que chegaste à idade avançada de quinze anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas.
 Este livro é doido, Maria. Isto é, o sentido dele está em ti. Escuta: se não descobrires um sentido na loucura, acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade. A realidade, Maria, é louca. Nem o papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: “Fala a verdade, Dinah, já comeste um morcego?” Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. “Quem sou eu no mundo?” Essa indagação perplexa é o lugar comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrastes essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira. A sozinhez (esquece essa palavra feia que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: “Estou tão cansada de estar aqui sozinha!” O importante é que conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço!
Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada, e vice versa, isto é, fechar uma porta bem aberta. Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo, e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo. Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave. A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes ao dia: “Oh, I beg your pardon!”. Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para a tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato.
Foi o que o rato perguntou à Alice: “Gostarias de gatos se fosse eu?”. Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados, todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: “A corrida terminou! Mas quem ganhou?” É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não sabe quem venceu. Se tiveres que ir a algum lugar, não te preocupes com a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre aonde quiseres, ganhaste. Disse o ratinho: “Minha historia é longa e triste!” Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: “Minha vida daria um romance.” Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance é só um jeito de contar um vida, foge, polida mas energicamente, dos homens e mulheres que suspiram e dizem: “Minha vida daria um romance!” Sobretudo dos homens. Uns chatos, irremediáveis, Maria. Os milagres acontecem sempre na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrario do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: “Devo estar diminuindo de novo”. Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente. E escuta essa parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo como hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha.
 Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma maquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e de rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar em disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e o grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom humor. Toda pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. 

Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado Maria, com as grandes ocasiões. Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: “Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas”. Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: é feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira da nossa dor, Maria da Graça."

Paulo Mendes Campos

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Chega mais perto e contempla as palavras



"Tem os que passam
e tudo se passa
com passos já passados

tem os que partem
da pedra ao vidro
deixam tudo partido

e tem, ainda bem,
os que deixam
a vaga impressão
de ter ficado"

Alice Ruiz



"Que eu saiba puxar lá do fundo do baú o jeito de sorrir pros “não” da vida."

Caio F. Abreu

Aquele encantamento




"Aquilo que provamos quando estamos apaixonados talvez seja o nosso estado normal. O amor mostra ao homem como é que ele deveria ser sempre."
Anton Tchekhov





"Entre muitas outras coisas, 
tu eras para mim uma 
janela através da qual podia ver 
as ruas. Sozinho não o podia fazer."
Franz Kafka







"Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
                                                                      Porque metade de mim é a lembrança do que fui
     A outra metade eu não sei..."
Oswaldo Montenegro

É viver cada segundo ...





"Assim que vi você
Logo vi que ia dar coisa
Coisa feita pra durar,

Batendo duro no peito
Até eu acabar virando
Alguma coisa
Parecida com você
Parecia ter saído
De alguma lembrança antiga
Que eu nunca tinha vivido,

Mas ia viver um dia
Alguma coisa perdida
Que eu nunca tinha tido
Alguma voz amiga

Esquecida no meu ouvido
Agora não tem mais jeito,
Carrego você no peito
Poema na camiseta

Com a tua assinatura
Já nem sei se é você mesmo
Ou se sou eu que virei alguma coisa tua"
Alice Ruiz

Meu avesso



"Pode parecer promessa
mas eu sinto que você é a pessoa
mais parecida comigo
que eu conheço
só que do lado do avesso

pode ser que seja engano
bobagem ou ilusão
de ter você na minha
mas acho que com você eu me esqueço
e em seguida eu aconteço

por isso deixo aqui meu endereço
se você me procurar
eu apareço
se você me encontrar
te reconheço."


Alice Ruiz



domingo, 8 de setembro de 2013

O dia que a Lua me escreveu uma carta


    
    Ao receber o envelope me surpreendi, talvez porque a tanto tempo não recebia uma carta, ou porque ela era de uma pessoa que admiro muito. Há admiro por ter o dom das palavras, de tocar nossa alma com pequenas frases que demonstram grandes sentimentos, há tantas razões pelas quais eu sou sua fã, que com certeza me perderei tentando enumerá-las...

  •  Ao ler tua escrita me reencontro com a ingenuidade que perdi a tempos com as intempéries da vida.
  •  Quando leio algo que tem haver com o que estou sentindo, fico leve, como se você tivesse dividido minhas angustias e aumentado minhas esperanças.
  •  Tens o dom da palavra, que consola, que acaricia, que esclarece aquilo que muitas vezes deixamos nublados em nosso coração.


    Guardarei comigo esta carta, como um pedacinho seu que deste a mim, pois até chegar aqui, houve todo um ritual de escrevê-la, escolher qual caneta usaria, qual papel seria melhor e também a expectativa de endereçá-la a mim, sem saber de pronto, como seria minha reação... É isto que eu sinto que se perdeu nos dias de hoje, esse ritual sutil e maravilhoso de trocar emoções em pedacinhos de papel, mas diferente de tantas outras coisas que foram esquecidas, você hoje me trouxe de volta a memória da possibilidade de mesmo longe, sermos cúmplices.


    Ouso ainda dizer que estive comigo no passado, quando eu escrevia cartas que nunca seriam lidas, onde no meu mundo, escrever era uma das melhores formas de desafogar o coração, de mostrar a mim e talvez ao mundo quem eu realmente era.



Teu nome tem Lua, que tanto admiro pelo mistério e fascinação que causa, e por conseguir ser tantas, sendo apenas uma.
Você é minha utopia realizada.

     Em um dos teus bilhetes, me disse algo que sem saber, era tudo que eu sempre precisei fazer, porém nunca o fiz. Sempre ouvi o coração das outras pessoas, suas tristezas e preocupações, não que eu seja perfeita, mas parte de mim sente tanto, que esquecia de ouvir meu coração.



    Por tudo te agradeço, e tenho certeza de que terás muito mais sucesso do que já tens, pois o que faz, faz de todo teu ser, e talvez seja isso que torne tudo tão especial.

Para Luara com carinho ...

domingo, 31 de março de 2013

"Ela não precisava ser salva.Mas, se ele tentasse, ela ia gostar."*




"– E se o amor não for uma coisa que aconteça com a gente?
– Como assim?
– E se o amor for uma coisa que a gente deixa acontecer?"

  Gabito Nunes





"Você não reconhece o dia mais importante da sua vida. Não até que você esteja bem no meio dele. O dia em que você se compromete com algo ou alguém. O dia em que partem seu coração. O dia em que você conhece sua alma gêmea. O dia em que você percebe que não há tempo suficiente porque você quer viver para sempre... Esses são os dias mais importantes. Os dias perfeitos."

Grey's Anatomy


* Título da autora Briza Mulatinho