"Ficar bem. Ser feliz. Encontrar um caminho. É tão simples! Tão banal como seguir um rumo, como alcançar um objectivo, como andar em frente sem olhar para trás.
De alguma maneira é simples. Simples como o esquecimento que não vem e a distância que não se pede. Simples como tatuar na pele uma nota a indicar que não se quer saber de nada nem de ninguém. Simples. Tão simples. E quem pode alcançar a simplicidade?!
É por isso que acho que pedir a alguém para ficar bem, quando o amor acaba é o mesmo que pedir a um pássaro que voe depois lhe partirem as asas. Sim! Ainda há céu. Ainda pode olhar para o céu. Ainda pode sonhar com o céu. Mas nunca mais fará parte dele. E, de alguma maneira, o céu dos meros mortais de asas e corações partidos é a felicidade... Está ali e existe. Podemos olhá-la, podemos sonhá-la. Mas nunca seremos parte dela... e ela nunca será parte de nós.
Haverá sempre a barreira inevitável da destruição. A destruição da vida que foi sonhada e não foi vivida. A destruição da crença de que se podia tocar na linha imaginária onde se cruza o mar e o céu. A destruição da certeza de que, um dia, tudo vai fazer sentido. E, quando tudo é quebrado pela barreira do adeus, fica somente a incerteza fria de que seja possível acordar sem desejar voltar atrás e morrer num dos momentos em que tivemos a plenitude.
A felicidade? Ela mora bem ali... na distância crua de tudo o que se conhece mas já não pode tocar, a exibir-se à frente dos olhos, numa parada de tortura, como se quisesse ter a certeza de se sofre o suficiente.
Mas solta-se o desejo: "fica bem!", "sê feliz", "encontra um caminho!". Porque ninguém é sincero o suficiente para admitir que "bem" é a distância do improvável, "feliz" é a certeza do impossível e que "um caminho" não significa um caminho mas antes outro caminho. Um caminho diferente do que teria sido desejado. Um caminho meio vazio, meio gasto, meio roubado, meio sofrido... cheio de meios, cheio de metades, completamente incompleto.
São as ambiguidades da vida. As ambiguidades que vêm da dor que nos é causada por tudo o que já nos fez feliz. As ambiguidades de haver infernos nos céus dos nossos desejos. E quantos de nós não somos pássaros de asas partidas, a olhar para o céu da felicidade? Quantos de nós não buscamos a força que não temos para bater as asas, mesmo partidas, numa tentativa de os alcançar, por mais que doa?
As asas quebradas com as quais pintamos as lágrimas também são simples. Tão simples que, quem olha para nós, ainda consegue dizer "fica bem". Tão simples que acabamos por aceitá-las e mentir a nós mesmos dizendo "fui eu que escolhi o chão".
Eis a ambiguidade da dor. Fere tanto que nos torna mais fortes!"
Marina Ferraz
Oi. Aqui estive para dar uma olhada. Muito interessante. Apareça por la. Abraços.
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